quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Análise do poema d´a près nature

um exemplo de análise de poema

................................por Gerferson Neftali

D`après nature


Lá pelos céus das plagas azuladas.
Derrama a lua os olhos de arminho,
E, longe em longe, nuvens esgarçadas
Semelham sombras de um celeste ninho.

À luz da lua, mãos entrelaçadas,
Estão dois noivos, a dizer baixinho
Doces sonhares, coisas encantadas.
Ela a franzir-lhe o lábio um risozinho,

Ele – a jurar o afeto dos poetas,
E a cercá-lo rosas e violetas
Lá no jardim, onde este par se antolha.

Ao longe um padre – olhar velado e langue,
Sentindo-lhe arfar impetuoso o sangue,
Deixa cair a um lado a bíblia... e olha!...




O soneto de Laura Fonseca nos trás alguns aspectos interessantes quanto à forma e o conteúdo. Iniciemos analisando o aspecto que diz respeito ao título que é baseado no naturalismo e sua estética. A locução francesa d`après nature designa toda obra de arte calcada ou mesmo copiada diretamente da natureza. Daí podermos dizer que o naturalismo pode ser definido como "a doutrina estética que busca inspiração direta na natureza e a reproduz com fidelidade.
No soneto de Laura Fonseca vamos observar que o princípio d`après nature fica evidente no último terceto do poema quando é-nos revelado que a cena dois dois noivos namorando sob a luz da lua está sendo observada por um padre.
Outra característica que chama atenção quanto à forma é a presença da pontuação, visto que a autora utilizou dos pontos de forma a deixar claro o entendimento e facilitar a leitura. Interessante notar o uso das reticências ao final do poema, uma pontuação que não apareceu até então e que foi utilizado pela autora na tentativa de deixar uma ideia suspensa, uma indefinição da ação do padre que observa o casal:


“(...) Deixa cair a um lado a Bíblia... e olha!...”


Pode-se notar também que a autora utilizou de um recurso sonoro com a intenção de reforçar a imagem que quis transmitir, a aliteração que é a repetição proposital de sons consonantais idênticos ou semelhantes:

“semelham sombras de um celeste ninho.”
A aliteração aparece mesmo incluído no verso, iniciando a palavra ou no meio dela:

“Ao longe um padre: - olhar velado e langue (...)”


O poema também apresenta enjambement que segundo Massaud Moisés é um recurso métrico que tem a função de alongar um verso encadeando-o ao seguinte, de modo a construir um verso mais extenso do que cada um dos segmentos conectados, assim, vejamos um exemplo de enjambement no poema em análise:


(...) Estão dois noivos a dizer baixinho
Doces sonhares, coisas encantadas (...)

Tais versos presentes no segundo quarteto do poema são entendidos numa única ideia:

“Estão dois noivos a dizer baixinho doces sonhares, coisas encantadas (...)

O poema tem ainda outros enjambements, como por exemplo em:

(...)E a cercá-lo rosas e violetas
Lá no jardim, onde este par se antolha. (...)


Que também poderia ser entendido como uma única ideia bem ritmada:

(...)E a cercá-lo rosas e violetas lá no jardim, onde este par se antolha. (...)

Pois bem, ao final ressaltaríamos ainda a excelência da linguagem utilizada pela poetisa, bastante erudita, bem selecionada fazendo rimas bem feitas na construção do soneto. As palavras eruditas enriquecem o valor do soneto. Algumas delas são: plagas, arminho, langue etc.


Referência:
MOISÉS, Massaud. A criação literária. Poesia. São Paulo: editora Cultrix, 2003

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