quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Modos de ler e seus suportes

exemplo de resenha

ANTUNES, Cláudia Rejane D. Modos de Ler. In: Letras de Hoje. Porto Alegre. v. 37, nº 2, p. 11-23, junho, 2002.


Gerferson Neftali



Partindo do pressuposto de que a leitura é uma forma de interação do sujeito com o mundo, podemos observar que os variados suportes podem não só desenvolver aspectos cognitivos e tecnológicos visando sempre ao aperfeiçoamento do homem. É o que vai-nos trazer à reflexão o ensaio “Modos de Ler”, de Cláudia Rejane D. Antunes, a qual busca fazer uma discussão entre os diferentes modos de ler e os recursos facilitadores para estes processos com seus diferentes objetivos determinados.
Dessa forma a autora vai iniciar com alguns aspectos históricos de suportes, desde a oralidade, como principal meio de comunicação e difusão cultural, passando pelas mais diferentes invenções que gradativamente foram permitindo acontecer o desenvolvimento da escrita em suas facetas diversas.
Em seu segundo ponto de debate Antunes vai tratar da materialização da leitura e de sua importância para a propagação dos textos como forma de participação na sociedade, visto que o papel social é um caráter definitivo do ato de ler. Também ressalta o abandono do livro em rolo, antes marcado pela leitura em voz alta, fato que vai contribuir para a circulação dos impressos e facilitar o acesso do novo público à leitura.
Ainda no item sobre a materialização da leitura a autora destaca o aprimoramento tecnológico que de certa forma vai criar uma preocupação com a diminuição de leitura dos textos materializados em livros, visto que, o texto virtual se tornaria uma ameaça aos livros e possivelmente enfraqueceria a divulgação dos mesmos.
No trecho sobra a virtualização do texto a ensaísta enfoca a relação de oposição entre o real e o virtual, destacando que “o virtual existe em potência e não em ato, ele é possível, só falta-lhe a existência.” (p. 14). Ao fazer tal observação aproxima o virtual do real pelo motivo de os dois serem semelhantes, mesmo que o primeiro não exista de fato, mas potencialmente em seu suporte específico. Contudo apesar de não existir materialmente o texto virtual permite ao leitor interagir de forma mais específica e completa, sendo mais ativo do que o leitor em papel. A mudança de suporte interfere diretamente no processo de leitura, o leitor passa de expectador a co-autor dos hipertextos, mesmo que sem uma sequência pré-estabelecida, pois a leitura passa do linear ao não-linear. Isso implica que o próprio leitor construirá sua sequência lógica de leitura e escolherá os textos que serão lidos, esses por sua vez não estão dispostos na rede hierarquicamente, o que exige do leitor uma capacidade de seleção tipológica do texto que lhe for necessário.
Muito embora os meios tecnológicos tenham criado certa preocupação, é importante que se note que existem formas mais adequadas de usar tais aparatos em favor da propagação de informações e desenvolvimento cognitivo do leitor. Antunes diz que com tal divulgação do hipertexto criam-se vínculos entre leitor e seu texto, entre a comunidade e a sociedade e outras relações que visam ao aparecimento de softwares que deveriam ser mais socializados para atingir um número maior de alunos das escolas brasileiras.
É necessário compreendermos que as mudanças sociais acompanham mudanças linguísticas, de práticas de leitura e de letramento, de concepção de língua e linguagem, de compreensão do mundo e de maneiras de ler o mundo. Embora o advento da internet, como um suporte mais bem aceito por grande parcela do nosso público, nos choque e nos faça algumas vezes repudiá-lo, temos que ter percepção de que não é a primeira e não será a última vez que essas mudanças ocorrem na sociedade. Um dia, hoje muito remoto para nós, que fazemos parte de uma sociedade letrada, a escrita desempenhou esse mesmo papel que a internet vem desempenhando hoje: de trazer à tona mudanças bruscas nas maneiras de comunicação e de produção discursiva, que chegou a ser repudiada por muitas pessoas.

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